
Recordo das tardes dentro da camionetinha de trabalho do meu pai, depois das aulas me levava de cima à baixo nas estradas de cor vermelho arroxeada do interior, aquelas que cortam de norte à oeste o estado de São Paulo. É que ele tinha que visitar as fazendas do patrão dele, ver se estava tudo nos conformes, comprar material aqui, buscar ferramenta lá, alugar maquinário acolá. Voltar pra casa é como estar olhando de novo pela janela lateral, tudo correndo à diante, tentando me agarrar a qualquer árvore, mas tudo passa em tiras, não seguro nada, é que eu perdi de novo a última festa, e só tem as bandeirinhas antes coloridas queimadas de sol.
Ficar olhando pela janela não é de agora, sempre foi assim, era ver plantas semelhantes de monte que ocupava uma longa extensão, parecia me dar uma sincope, era bonito ver mesmo quando aparecia as vilas, caiadas de todas as cores, e das vegetações com cores, dos campos abertos de futebol, dos gols sem rede, moleques da minha idade jogando, de algazarra, de short curto, de camiseta colorida dançando no vento, dos tênis tingidos daquele barro vermelho arroxeado das estradas que falei. Ai passava pelo sítio do meu avô, gostava mesmo de me mostrar seus feitos, mostrou o cocho que fizera reutilizando um galão azul.
O chão da casa do sítio também era de um vermelhão de pintar o pé, e as paredes pareciam a lousa da sala de aula só que riscada inteira de giz branco, a mão também ficava pintada. Depois passava por debaixo da cerca pra me mostrar sua horta, mas a horta é de hoje é que embaralho o passado e o agora, acho faço isso para sentir que continuei todos os meus dias aqui, me falava então qual vegetal vingou, qual não ia pra frente, esse era trabalho, ou dava frutos que era uma beleza, mas as passadas entre cercas acabavam por rasgar suas camisas extremamente finas já pela constância, ai era trabalho pra vó.
A vó Bia fazia todos os reparos em cima das roupas dele e de todo mundo, falava que não gostava de costurar peças do zero mas, fazer barras, ajustar cintura e fazer panos de prato, passava horas maquina, no breve silêncio ali dos entre pontos torno a pensar nas bandeiras estiradas, me vem cheiro quente de gengibre e álcool, pergunto sobre as festas, diz que não tem mais em tal lugar, também não tem no outro, olha para minhas calças e diz que estão muito curtas, pergunta se vou pular brejo, digo que gosto delas assim curtas, barra virada, uma, duas, três vezes, esses meninos inventam cada moda ela diz, e me da um jogo de guardanapos pra viagem de volta.










